mercredi 28 janvier 2009

SOCIEDADE EM REDE

O paradoxo do real

Somados os percursos, teremos reconstituído uma pluralidade de mundos dentro de um mesmo e único mundo. Ou como escreveu Borges: "... sentia que o mundo é um labirinto, do qual era impossível fugir, pois todos os caminhos, ainda que fingissem ir ao norte ou ao sul, iam realmente a Roma"

Dalton Martins, Hernani Dimantas

(29/03/2008)

"As redes sempre tiveram o poder de produção de subjetividade e pensamento. A sociedade, o capital, o mercado, o trabalho, a arte, a guerra são hoje, definidos em termos de rede. Redes sociais são as formas que a sociedade se organiza. Uma organização que leva em conta as relações caóticas. André Parente afirma que "O fato de pensar é pensar em rede". O fato de existir é estar em rede.

Para Deleuze, "pensar é experimentar, é problematizar. O saber, o poder e o si são a tripla raiz de uma problematização do pensamento. E, primeiramente, considerando-se o saber como problema, pensar é ver e é falar, mas pensar se faz no entremeio, no interstício ou na disjunção do ver e do falar. É, a cada vez, inventar o entrelaçamento, lançar uma flecha de um contra o alvo do outro, fazer brilhar um clarão de luz nas palavras, fazer ouvir um grito nas coisas visíveis. Pensar é fazer com que o ver atinja seu limite próprio, e o falar atinja o seu, de tal forma que os dois estejam no limite comum que os relaciona um ao outro separando-os".

Heidegger pergunta: "O que é pensar?". E, responde: "Nós nunca chegamos aos pensamentos eles vem a nós. É a hora conveniente para a conversação. Isto nos dispõe para a meditação em comum, esta nem considera o opinar contraditório, nem tolera o concordar condescendente. O pensar permanece firme ao vento da coisa. De uma tal maneira convivência talvez alguns surjam como companheiros no oficio do pensar. A fim de que inesperadamente um deles se torne mestre".

Pensar em rede não é apenas pensar na rede, que ainda remete à idéia de social ou a idéia de sistema, mas sobretudo pensar a comunicação como lugar da inovação e do acontecimento, daquilo que escapa ao pensamento da representação.

A rede apresenta dois lados, um voltado para a construção de modelos que constituem como totalidades das relações imanentes e outro para a singularidade e paisagens irredutíveis. De fato, máquinas infocomunicacionais estariam engendrando profundas transformações nos dispositivos de produção das subjetividades. Vivemos um tempo de mudanças.

A relação é paradoxal. A mistura, a miscigenação cultural resulta num processo de enriquecimento e empobrecimento, singularização e massificação, desterritorilização e reterritorialização, potencialização e despotencialização da subjetividade em todas as dimensões.

Guatarri, em Caosmose, denomina "maquínico o estrato de sentido formado por matérias expressivas heterogêneas, não-linguisticamente formadas, mas ainda assim de natureza semiótica. Substâncias de expressão heterogêneas como as codificações biológicas ou as formas de organização própria ao socius — como aquelas derivadas de instituições como a família ou a escola — atravessam, transversalmente, os domínios de sentido propriamente linguísticos."

É a primeira vez na história da humanidade que a realidade do aqui e agora se encontra imersa nas tramas de uma temporalidade maquínica. A tecnologia como fato cultural multitemporal

A informática e a tecnociência não são nada mais do que formas hiperdesenvolvidas da própria subjetividade. Aqui entram fatores subjetivos das atualidades históricas (componentes semiológicos significantes que se manifestam através da família, educação, esporte, cultura, meio ambiente, arte e religião,) o desenvolvimento em escala das produções maquínicas de subjetividade (elementos fabricados pela indústria das mídias, cinema, máquinas lingüísticas etc. e por último, os aspectos etológicos e ecológicos relativos a subjetividade humana, a ecologia social e a ecologia mental. E, são trabalhado por agenciamentos coletivos de enunciação.

"Uma máquina que não fosse investida de desejo e alimentada de subjetividade seria um corpo sem vida. Todo corpo tem sua artificialidade e toda máquina tem sua virtualidade. A tecnologia é, portanto, a prótese" [DELEUZE. Conversações, 1998.p.122]. É o corpo sem orgãos, que é como o mecânico supõe uma máquina social. O próprio organismo supõe um corpo sem órgãos definido por suas linhas, seus eixos e seus gradientes. Todo um funcionamento maquínico distinto das funções orgânicas sociais tanto quanto das relações mecânicas.

Nesse contexto, podemos perceber que é a primeira vez na história da humanidade que a realidade do aqui e agora se encontra imersa nas tramas de uma temporalidade maquínica. A tecnologia como fato cultural multitemporal. Heidegger diz que "a finitude do tempo só se tornava plenamente visível, quando o tempo sem fim se explicitava, por contraposição à finitude". Vivemos, então, nesta contraposição. E assim, percebemos a desconteneirização não só do tempo, mas do espaço, do ser e do conhecimento.

O tempo funciona como um filtro, que ora faz passar, ora impede a passagem. É desta forma que as tecnologias remetem ao duplo movimento de aceleração e desaceleração, inovação e tradição, desterritorialização e territorialização. A contemporaneidade se caracteriza cada vez mais pela edição ou a forma como as partes do sistema são montadas ou articuladas. Esta é a cultura do remix.

Essa cultura remixada, misturada e miscigenada. Uma cultura que se desenvolve em rede exige o reconhecimento por parte da consciência. A partir de então, a filosofia ficou diferente, não pôde mais ignorar o estar-com-os-outros. Não se pode ignorar as relações em rede.

Podemos nos lembrar das teses de Leibniz e dos muitos caminhos possíveis que podem ser percorridos. São diferentes os percursos para cada indivíduo. Diferentes, portanto, a forma como cada um pode perceber onde vive, como vive e, escolher seu tempo. Se somarmos todos os percursos, teremos reconstituído uma pluralidade de mundos dentro de um mesmo e único mundo.

O fato de estar trilhando por caminhos obscuros, pela bifurcação da vida nos faz um experimentador de diferentes sentidos. Ou como escreveu Jorge Luis Borges: "...eu sentia que o mundo é um labirinto, do qual era impossível fugir, pois todos os caminhos, ainda que fingissem ir ao norte ou ao sul, iam realmente a Roma". Cá está o paradoxo!"

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