Pesquisadores britânicos apresentaram dia 04/03/09, em Londres, um equipamento de realidade virtual capaz de estimular simultaneamente os cinco sentidos do usuário: visão, audição, olfato, paladar e tato. Chamado de “casulo virtual”, ele pode ser usado futuramente por games ou turistas virtuais, por exemplo, na simulação a viagens para países distantes. Além dessa notícia, é importante ressaltar alguns princípios filosóficos.
“Não podemos duvidar de que existimos quando duvidamos; e este é o primeiro conhecimento que obtemos filosofando com ordem. Assim, rejeitando todas aquelas coisas de que podemos duvidar de algum modo, e até mesmo imaginando que são falsas, facilmente supomos que não existe nenhum Deus, nenhum céu, nenhuns corpos; e que nós mesmos não temos mãos nem pés, nem de resto corpo algum; mas não assim que nada somos, nós que tais coisas pensamos: pois repugna que se admita que aquele que pensa, no próprio momento em que pensa, não exista. E, por conseguinte, este conhecimento, eu penso, logo existo, é o primeiro e mais certo de todos, que ocorre a quem quer que filosofa com ordem.”
Descartes, Princípios da Filosofia, I Parte
Assim como Descartes afirmou em seus ensaios, de que não existe corpo, mãos, pés, nada, somente cérebros dentro de baldes com uma solução ligados a uma grande máquina inteligente gerando uma ilusão da vida normal, depois de várias décadas, vemos isso acontecer.
A realidade virtual e agora o termo sugerido Virtualidade real, chega ainda mais próximo do colocado por Descartes, já que podemos sentir, ouvir, cheirar, ver e saborear o real num mundo virtual. O fato de explorar os cinco sentidos, mistura o real com o virtual e logo logo ficaremos imersos numa ilusão criada por nossos desejos. E quem falou que isso é ruim?
Assim como Cypher em Matrix, que sabia que o bife não existia, mas o percebia tão real, tão suculento, tão cheiroso e gostoso, num breve futuro poderemos de nossas casas visitar qualquer lugar do mundo, encontrar pessoas, provar novos sabores, dirigir o carro que quisermos, ou mesmo pilotar um jato, manter relações com quem quisermos, até mesmo uma pessoa que não exista na vida real, afinal, poderemos fazer absolutamente tudo.
O mundo ilusório criado pelos desejos de seus usuários ficarão no futuro muito mais sutis e não precisaremos de casulos, nem óculos, nenhum aparelho. Tudo estará dentro do nosso cérebro. Acreditar e desejar nesse caso será o gatilho para a viagem ilusória, a conexão com a matriz. Você acha que essa afirmação é irreal, que nunca vai acontecer?
Se alguém nos falasse há 10 anos atrás sobre esse projeto britânico “casulo virtual”, iríamos achar coisa de cinema. Pois é, a virtualidade real está aí, mais real do que nunca. Ainda teremos que colocar um capacete e outros apetrechos, mas como tudo na tecnologia minimiza, com a virtualidade não será diferente. A minimização irá suprimir os conectores e restará somente nosso transporte (o cérebro).
Para finalizar esse “parênteses” quero colocar duas coisas:
- A matriz, esse mundo ilusório já existe a muito tempo em diversos aspectos (discutirei em outra ocasião)
- Uma pergunta para responder no futuro: a) Sou um cérebro num balde ou b) Sou um ser humano de carne e osso
- Uma pergunta para responder no futuro: a) Sou um cérebro num balde ou b) Sou um ser humano de carne e osso
Voltando ao projeto britânico…
Com o equipamento, seria possível levar alunos de história ao Egito antigo, onde o estímulo dos sentidos indicaria quais os visuais, sons e cheiros das ruas locais. Se o professor preferisse o século 21, poderia fazer com seus estudantes uma visita virtual a Tóquio, por exemplo, onde eles viveriam as sensações proporcionadas pelas ruas da cidade japonesa.
Para fazer isso, uma espécie de capacete – o “casulo”, como é chamado pelos pesquisadores – reúne diversas capacidades computacionais e produtos eletrônicos dentro de sua estrutura. Esses itens são usados com o objetivo de imergir o usuário em uma situação inexistente, fazendo com que ela pareça extremamente real. De acordo com os pesquisadores, o projeto deve ser concluído em cinco anos.
Segundo o jornal “Daily Mail”, o protótipo se conecta sem fio em um computador, que envia as informações sobre um ambiente virtual ou um ambiente real, porém remoto. As imagens são exibidas em uma tela. Um tubo conectado a uma caixa com diferentes produtos envia ao nariz do usuário cheiros, enquanto um equipamento parecido espirra sabores com diferentes texturas em sua boca. O calor e a umidade podem ser alterados com ventiladores e aquecedores, e alto-falantes reproduzem os sons ambientes.
Desenvolvido com fundos do Conselho de Pesquisa de Ciências Físicas e Engenharia (EPSRC, na sigla em inglês), o projeto apresentado em 04/03/2009 tem participação de cientistas das universidades de York e de Warwick.
“Projetos de realidade virtual geralmente focam em um ou dois dos cinco sentidos – com freqüência, a visão e audição. Não conhecemos outro grupo de pesquisa no mundo que tenha um objetivo como o nosso [de estimular os cinco sentidos]”, disse o professor David Howard, da Universidade de York, líder da iniciativa.
Para a conclusão do projeto, os pesquisadores ainda pretendem tornar o “casulo” mais leve, mais confortável e mais barato.
Fonte: G1, Wired e diversas fontes
Por Grazziani Colombo